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Escrito em 15/03/2018

A torre e o sino

“Louvai-o com tímpanos e danças, louvai-o com a harpa e a flauta. Louvai-o com címbalos sonoros, louvai-o com címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor!” (Sl 150)

Fr. Sidney Machado, ofmcap

Fr. Sidney Machado, ofmcap

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A oração de louvor e ação de graças é uma das expressões mais elevadas da vida cristã e o uso de instrumentos musicais é parte importante da liturgia da Igreja do Ocidente. O mesmo não ocorre na tradição ortodoxa, onde se acredita que a voz humana constitui o único instrumento digno de cantar os louvores do Senhor. Cada tradição traz a riqueza de colocar em evidência um aspecto diferente do inesgotável mistério da salvação, contudo, em comum entre muitas das tradições, existe um instrumento que não apenas eleva louvores ao Senhor, como também convoca o povo de Deus para a oração e a liturgia. Trata-se do sino das igrejas. Apesar de se atribuir o uso do sino como instrumento para convocar a assembleia para a liturgia a São Paulino de Nola (século V), bispo da região da Campanha, na Itália (por isso as torres com sino recebem o nome de campanário), acredita-se que tal uso teve origem já no século IV. Contudo, o uso do sino estrategicamente colocado sobre uma pequena torre é registrado pela primeira vez com Gregório de Tours (França), no século VI. No século VIII, o papa Estêvão II fez construir na Basílica de São Pedro, no Vaticano, uma torre para abrigar três sinos e, a partir do período carolíngio (século IX), as torres passam a ser sempre mais frequentes, formando parte importante da arquitetura romântica e gótica.

As igrejas do norte da Europa e dos países eslavos costumam ter a parte alta de suas torres em bronze dourado, terminando em forma de cebola. Elas são como as chamas de velas acesas e lembram a constante oração que a Igreja eleva ao céu em ação de graças pela obra da criação e redenção. 

A forma mais simples de campanário são os chamados campanários à vela. Trata-se de um prolongamento em uma das paredes do templo, destinado a dar lugar ao sino, sem que se tenha que construir uma torre.

Pela sua austeridade e pouco custo, são soluções arquitetônicas comuns nos antigos conventos franciscanos e capuchinhos. Em uma carta aos dirigentes dos povos, São Francisco de Assis pedia que fizessem sempre soar os sinos como forma de convidar o povo ao louvor de Deus e assim surgiu a oração do Angelus, que se reza três vezes ao dia, ao tocar dos sinos: pela manhã (6h), ao meio-dia (12h) e à tarde (18h), como forma de consagrar o dia todo ao Senhor da história. Essa iniciativa do Santo de Assis teria sido inspirada na oração dos muçulmanos, sempre convocada por meio de cantos proferidos do alto de torres, como ele teve oportunidade de testemunhar quando esteve no Oriente. Desde então, quis propor um costume semelhante para o mundo cristão.

"Os sinos são a voz potente e vibrante da Igreja que convida seus membros a unirem-se para cantar os louvores do Senhor

As alturas das torres das igrejas obedecem a uma função prática: quanto mais alta, mais longe se poderá ouvir o ecoar dos sinos, pois as ondas sonoras podem se propagar sem encontrar obstáculos. Ter uma torre muito alta era também um meio utilizado na Idade Média para colocar em evidência a fé de uma cidade ou povoado. Já a partir da perspectiva simbólica, a altura da torre serve a indicar a importância do edifício, acenando para a sua função de comunicação entre o céu e a terra. O movimento ascensional sugerido pelas formas ascendentes das torres é um convite a elevar o coração e a mente ao Deus altíssimo e assim ter o coração sempre elevado e disponível ao louvor.

As torres das igrejas costumam terminar em forma de cruz, o símbolo cristão de comunhão entre o céu e a terra, como a nova “escada de Jacó”, por onde os anjos descem e sobem. Mas não é incomum ver um galo a adornar o topo das igrejas. Por um lado, ele faz pensar na negação de Pedro, que ao ouvir tal canto lembrou-se das palavras do Senhor e se arrependeu por não assumir a própria condição de apóstolo diante de seus acusadores. Algumas tradições antigas diziam que o dia não chega se o galo não cantar; assim, o canto do galo é a certeza de que há sempre esperança e de que a luz de um novo dia tornará a brilhar. Mas, para o cristão, o galo é sinal da vigilância e da espera da segunda vinda do Senhor.

Essa ave anuncia a chegada da aurora e assim nos lembra da espera da segunda vinda do Astro Luminoso, que nos visitará no fim dos tempos.

Os distintos modos de tocar os sinos são meios para expressar o estado de espírito do povo cristão. De solene e compassado nos momentos de luto ele passa a alegre e ritmado nos momentos de alegria e júbilo, como quando convoca o povo de Deus ao louvor. Entre a Quinta-feira Santa e vigília de Páscoa, os sinos permanecem em silêncio, como forma de referência ao mistério que se celebra. Durante todo o resto do ano litúrgico, os sinos são a voz potente e vibrante da Igreja que convida seus membros a unirem-se para cantar os louvores do Senhor: “Tudo o que respira louve o Senhor!” (Sl 150).

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