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Escrito em 13/06/2017

Corpus Christi: honra ao mistério eucarístico

A Solenidade do Corpo de Deus é, por excelência, na Idade Média e ao longo dos tempos, a festa da cidade

Dom Washington Cruz, CP

Dom Washington Cruz, CP

Arcebispo Metropolitano de Goiânia

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Nesta quinta-feira, 15, Solenidade acontece na Praça Cívica, a partir das 17h

A Solenidade de Corpus Christi, que a Igreja celebra na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, em honra do mistério da Eucaristia, conserva ainda hoje uma importância central para a afirmação da presença de Jesus Cristo junto dos homens e mulheres do nosso tempo. Essa solenidade já tem uma longa história, dado que foi instituída na Diocese de Liège, Bélgica, pelo bispo Roberto de Thorete, num sínodo em 1246. Nesse acontecimento, que essa Igreja viveu com grande entusiasmo, toda a cidade se envolveu. 

A festa nasceu num contexto muito importante da Cristandade medieval, de renovação pastoral, em que o Cristianismo procurava equacionar os problemas que essa mesma cidade lhe trazia, nomeadamente dos pobres e dos marginalizados. Procurava-se fazer, então, a nova evangelização, isto é, reapresentar o Evangelho àqueles que, de nome, já eram cristãos, mas cujos sentimentos ainda estavam muito longe dos próprios sentimentos de Cristo. Assim, desde as suas origens – não só em Liège, mas também em toda a Igreja, quando o papa Urbano IV, em 1264, estendeu a festa à Igreja universal – após a Eucaristia solenemente celebrada, como vai acontecer no dia 15 de junho, a presença do Senhor era prolongada através da procissão, pelas ruas da cidade. 

A Solenidade do Corpo de Deus é, por excelência, na Idade Média e ao longo dos tempos, a festa da cidade, sendo a procissão o seu mais importante ato. Para ela convergiam todas as suas forças vivas. A procissão do Corpo de Deus, ontem como hoje, é um acontecimento notável, porque chama a nossa atenção para a centralidade do mistério da Eucaristia na vida da Igreja e na vida de cada crente. Isso acontece desde o século XIII, em contexto de renovação, mas também de grandes desafios – naquela altura com questões sérias que se prendiam com a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Hoje transportamos conosco outras questões, a nossa cidade contemporânea terá outras perguntas e outras hesitações, perplexidades diferentes, mas é a mesma centralidade da Eucaristia que está em causa. 

"O banquete eucarístico, ao revelar a sua dimensão intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa liberdade a caminho

A procissão com o Santíssimo Sacramento é recomendada pelo Código de Direito Canônico, no qual se refere que “onde, a juízo do bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo” (Cân 944, §1º). Se é certo que os Sacramentos são uma realidade que pertence à Igreja peregrina no tempo rumo à plena manifestação da vitória de Cristo ressuscitado, é igualmente verdade que, sobretudo na liturgia eucarística, nos é dado saborear antecipadamente a consumação escatológica para a qual todo o homem e a criação inteira estão a caminho (Rm 8,19s). 

Aliás, para poder caminhar na direção justa, o homem necessita estar orientado para a meta final; essa, na realidade, é o próprio Cristo Senhor, vencedor do pecado e da morte, que se torna presente para nós de maneira especial na celebração eucarística. Desse modo, embora sejamos ainda “estrangeiros e peregrinos” (1Pd 2,11) neste mundo, pela fé participamos já da plenitude da vida ressuscitada. O banquete eucarístico, ao revelar a sua dimensão intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa liberdade a caminho. Com o dom de si mesmo, Cristo inaugurou objetivamente o tempo escatológico chamando à unidade o povo de Deus que andava disperso, transferindo, para a comunidade inteira por Ele fundada, a missão de ser, na história, sinal e instrumento da reunificação escatológica que n’Ele teve início. 

Por isso, em cada celebração eucarística, realiza-se sacramentalmente a unificação escatológica do povo de Deus. Para nós, o banquete eucarístico é uma antecipação real do banquete final, preanunciado pelos profetas (Is 25,6-9) e descrito no Novo Testamento como “as núpcias do Cordeiro” (Ap 19,7-9) que se hão de celebrar na comunhão dos santos. A celebração eucarística, na qual anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a sua ressurreição enquanto aguardamos a sua vinda gloriosa, é penhor da glória futura, em que os nossos corpos serão glorificados. Ao celebrarmos o memorial da nossa salvação, reforça-se em nós a esperança da ressurreição da carne juntamente com a possibilidade de encontrarmos de novo, face a face, aqueles que nos precederam com o sinal da fé. Por isso, é muito importante a oração de sufrágio, particularmente a celebração de Missas, pelos defuntos, para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. Por outro lado, descobrindo a dimensão escatológica presente na Eucaristia, celebrada e adorada, somos apoiados no nosso caminho e confortados na esperança da glória (Rm 5,2; Tt 2,13) (Sacramentum Caritatis, n. 32).  

"Façamos o possível para que nossas comunidades participem dessa celebração, às 17h, na Praça Cívica

Da relação entre a Eucaristia e os restantes sacramentos, juntamente com o significado escatológico dos santos mistérios, irrompe o perfil da vida cristã, chamada a ser em cada instante culto espiritual, oferta de si mesmo agradável a Deus. “E, se é verdade que nos encontramos todos ainda a caminho rumo à plena consumação da nossa esperança, isso não impede de podermos já agora reconhecer, com gratidão, que tudo aquilo que Deus nos deu, se realizou perfeitamente na Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa: a sua assunção ao céu em corpo e alma é, para nós, sinal de segura esperança, enquanto nos aponta a nós, peregrinos, o tempo, aquela meta escatológica que o sacramento da Eucaristia desde já nos faz saborear”. 

Em Maria Santíssima, vemos perfeitamente realizada também a modalidade sacramental com que Deus, na sua iniciativa salvífica, alcança e envolve a criatura humana. Por isso, sempre que na liturgia eucarística nos abeiramos do corpo e do sangue de Cristo, dirigimo-nos também a Ela que, por toda a Igreja, acolheu o sacrifício de Cristo, aderindo plenamente ao mesmo. “Maria inaugura a participação da Igreja no sacrifício do Redentor”. Ela é a Imaculada que acolhe incondicionalmente o dom de Deus, e dessa forma fica associada à obra da salvação. “Maria de Nazaré, ícone da Igreja nascente, é o modelo para cada um de nós saber como é chamado a acolher a doação que Jesus fez de Si mesmo na Eucaristia” (De Sacramentum Caritatis, Bento XVI, Exortação apostólica pós-sinodal n.33.) 

Façamos o possível para que nossas comunidades participem dessa celebração, às 17h, na Praça Cívica. Permite-se uma Missa, na parte da manhã, para os idosos e demais impossibilitados, mas sem a procissão. A procissão será uma só em toda a Arquidiocese. É aconselhável que no domingo seguinte as paróquias ou mesmo grupos de paróquias façam a procissão no seu território. “Louvado seja o Santíssimo Sacramento do Altar!”

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