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Escrito em 07/11/2017

Espiritualidade kenótica (do despojamento) Desafios da missão

A missão é mais paixão que ação. Trata-se de se deixar moldar, de se tornar permeável no encontro com o outro

Mons. Daniel Lagni

Mons. Daniel Lagni

Pároco

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4º Congresso Missionário Nacional, Recife-PE. Foto: Assessoria de Comunicação/Pontifícias Obras Missionárias (POM)

A maior parte dos missionários deixa suas origens e vai para outro país, conhece e vive uma nova cultura. Isso é mais que o testemunho de solidariedade entre as Igrejas. Trata-se de um despojamento cultural que nos abre ao acolhimento do diferente. É como passar para o lado do outro. É uma kénose à imagem de Cristo, que se despojou de suas seguranças, para se identificar com aqueles a quem foi enviado. Deixar a sua terra é, antes de tudo, deixar a si mesmo, “descalçar-se”, perder as próprias seguranças, depor as armas, sair de si, para deixar-se acolher por outra cultura, onde o Espírito já se encontra e nos espera. Esse despojamento é necessário para captar os caminhos do Espírito já presente nos espaços da missão. É ele que precede o missionário e lhe indica os caminhos. 

O missionário é, assim, o primeiro a ser evangelizado no seio daquele povo. O Espírito está presente não só na história que o missionário vai encontrar, mas também na cultura e até nas crenças religiosas, como também na sua vida diária. É um despojamento que permite ao missionário discernir e descobrir um novo rosto de Cristo encarnado naquele povo, vivendo a sua história e seus valores. A missão é, sobretudo, ajudar o povo a fazer essa descoberta. É uma kénose, feita de disponibilidade total, de abertura ao outro, de escuta, de silêncio, de contemplação. A missão é mais paixão que ação. Trata-se de se deixar moldar, de se tornar permeável no encontro com o outro. É isso que lhe permite ultrapassar todas as barreiras culturais e étnicas, para poder acolher o dom do outro.

Com uma espiritualidade kenótica, os missionários atravessam fronteiras, não como quem dá, mas como quem recebe. Eles não vão para a terra de missão com avançadas tecnologias para modernizar o subdesenvolvimento, com uma cultura superior para civilizar os bárbaros, com uma religião para acabar com as superstições, ou com uma série de verdades reveladas para ensinar os ignorantes. A espiritualidade kenótica faz do missionário uma pessoa da outra margem, do outro lado. Do outro lado da sua própria cultura, história, valores, língua-mãe, símbolos nativos, não no sentido de os rejeitar, mas no sentido de esvaziar-se deles, para acolher os valores de quem acolhe. O missionário passa para o seu lado.

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