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Escrito em 30/04/2018

Que sistema de saúde quer o povo brasileiro? Análise contextual

como falar em destituir a saúde pública no Brasil, um país cujo povo valoriza as tecnologias e as práticas profissionais em saúde e vem historicamente lutando para ter direito de acesso elas?

Leonardo Essado Rios

Leonardo Essado Rios

Especialista em Saúde Coletiva e Mestre em Ensino na Saúde

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Ultimamente, temos visto em nosso país um total descaso com a saúde pública. Governantes tentam alavancar o discurso de que a saúde pública não presta e que, por isso, a atenção à saúde deve ser entregue ao setor privado. Neste texto, proponho uma breve análise contextual para mostrar por que esse discurso não é coerente com os anseios da nossa população.
 
No Brasil, é comum a concepção popular de que o principal médico, em primeiro lugar, é Deus e, em seguida, estão os médicos (profissionais de saúde em geral), com seus conhecimentos científicos, tratamentos e medicamentos. Na Bíblia Sagrada, livro do Eclesiástico (cap. 8), há um capítulo “sobre médicos e medicinas”, com exortações ao leitor: “Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou. (Toda medicina provém de Deus) [...] O farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe unguentos úteis à saúde [...] Meu filho, se estiveres doente, não te descuides de ti, mas ora ao Senhor que te curará. Em seguida, dá lugar ao médico, pois ele foi criado por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária”.
 
Sendo o Brasil um país em que se estima que mais de 64% da população é católica e mais de 22% evangélica, totalizando-se quase 90% de cristãos (Fonte: Censo 2010, IBGE), podemos presumir a predominância de uma cultura de valorização do conhecimento médico, do saber científico e dos profissionais de saúde de modo geral. Posso dar testemunho sobre isso, já que nasci no interior de Goiás, em numerosa família composta por pessoas tementes a Deus, católicas ou evangélicas.
 
Do ponto de vista histórico, houve tempos em que somente ricos tinham acesso à saúde no Brasil. Depois, veio o tempo em que trabalhadores com carteira assinada recebiam assistência médica. Até que, com muita luta e participação popular, durante a reforma sanitária, cujo clímax foi a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), os brasileiros conquistaram o direito à saúde (cujo dever é do Estado), o que foi promulgado na Constituição Federal de 1988.
 
Então, como falar em destituir a saúde pública no Brasil, um país cujo povo valoriza as tecnologias e as práticas profissionais em saúde e vem historicamente lutando para ter direito de acesso elas? Como falar em planos de saúde acessíveis para substituir o papel do SUS? Ao contrário do que querem os atuais governantes, o povo brasileiro quer uma saúde pública digna e de qualidade!
 
Ademais, dados de levantamentos nacionais recentes mostram que as condições socioeconômicas estão associadas à utilização dos serviços de saúde, assim como essa procura aumenta entre as mulheres e à medida que ocorre um avanço na idade. Logo, os maiores prejudicados com o desmonte do SUS não são os pobres e vulneráveis? O lado mais fraco?
 
Assim, emerge uma questão ética que pressupõe relações desiguais entre pessoas/grupos, a qual não pode ser negligenciada. Cada um de nós deve decidir de que lado ficar: ou lutamos contra a injustiça social em defesa do SUS e da população brasileira, especialmente os mais vulneráveis, ou atendemos aos interesses da minoria entreguista e privatista que assolam nosso país. Que Deus ilumine nossas escolhas, decisões e ações!

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