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Homilias

Escrito em 24/05/2017

Missa em honra a Nossa Senhora Auxiliadora

Catedral lotou em celebração à nossa Padroeira, presida pelo arcebispo no dia 24 de maio

Missa em honra a Nossa Senhora Auxiliadora

Irmãos e irmãs,

Hoje nos acolhemos e nos recolhemos no colo de Nossa Mãe para celebrarmos sua Solenidade e invocarmos de seu Filho o dom do Espírito Santo, que faz da Igreja casa e escola de comunhão. Nas bodas de Caná, que ouvimos no Evangelho, não é o pão nem a carne, não é o mínimo necessário que falta. Lá, em pleno banquete nupcial, vem a faltar vinho. E com ele falta o sinal da alegria do coração e da profusão do amor. A abundância que brotará das mãos de Jesus aponta para o que é próprio de Deus na sua criação. Ele esbanja, cria todo o universo para dar espaço ao ser humano. Ele nos dá a vida, e a vida em abundância. Essa abundância é a expressão daquele amor gratuito que não se põe a contar, que não enumera, mas que, sem pensar em si, simplesmente se dá.

Quando perde o contato com Deus, sua fonte, também o amor humano como o vinho velho, rapidamente se esgotará. Frequentemente falta também à nossa vida não tanto o pão de cada dia, mas aquela alegria que dá qualidade à vida, perfume e sabor às coisas de cada dia. Falta-nos, por vezes, aquele “quê” de alegria, de paixão, de entusiasmo e de festa interior, para que essa frágil barca, que é nosso coração, avance com confiança. E no meio da festa faltou o vinho. Maria é a primeira a se aperceber dessa falta, porque é aquela que melhor conhece a alegria do amor. Podemos, por isso, nesta Solenidade em sua honra e à luz da Palavra hoje escutada, aprender de Maria a recuperar ou a reconquistar a alegria do amor na prática de cinco atitudes muito concretas. 

Primeira recomendação: Viver sempre como Maria na atenção do coração aos outros. Em Caná, enquanto os outros se distraem, Maria percebe-se com atenção própria do seu coração feminino, materno e amigo. Na sala da festa, Maria vê o que ninguém vê. Vive com atenção. E intervém, antecipando a hora. Preocupada com a falta do vinho, ela não diz a Jesus, de modo impessoal, “não há vinho”, como se fosse um simples fato material. Mas diz, gemendo por dentro, “eles não têm vinho”, como problema moral que lhe diz inteiramente respeito. Maria está atenta àquilo que falta, a pobreza imprevista, envergonhada ou desconhecida. Maria ensina então a viver da atenção do coração aos outros. Quer nas horas de tristeza, quer nas horas de alegria. Devemos, como Maria, vibrar com o pulsar do mundo, perscrutar os seus gemidos, as suas dores, as suas angústias e aflições. Maria é, em Caná, a imagem perfeita daquela Igreja atenta ao mundo, desenhada pelo Concílio Vaticano II.

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de todos os aflitos, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. E nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração. No coração da Igreja, como no coração de Maria. 

Segunda recomendação: Interceder como Maria, com confiança humilde. Dessa atenção, dessa comunhão com as alegrias e angústias de todos, brota a intercessão gratuita de Maria. Na Primeira Leitura e no Evangelho, Maria aparece como pessoa que reza. Virgem dada à oração, sempre a interceder por nós. De fato, depois da ascensão, na sala de cima, no mesmo lugar da última Ceia, estão reunidos em oração os apóstolos e algumas mulheres, dentre as quais se destaca Maria, a mãe de Jesus. Essa sala de cima faz pensar na dimensão contemplativa da existência, o templo alto da oração que une o silêncio das estrelas como um turbilhão dos dias. Na sala de cima do cenáculo em Jerusalém, Maria guiou a Igreja nascente na oração. Nessa noite, mais uma vez, Maria, a mãe do Senhor, atrai a comunidade dos discípulos de Jesus para se reunirem em oração e ação de graças em volta do seu Filho, agora ressuscitado e exaltado junto do Pai. Na sala das bodas, em Caná da Galileia, Maria intercede junto de Jesus e o faz sem se lamentar, sem acusar ninguém, sem procurar culpados, e dirige-se então a Jesus, seu Filho, não simplesmente como a um homem, contando com sua fantasia e disponibilidade para o socorrer. Ela confia uma necessidade humana a um poder que está acima da habilidade e da capacidade humanas. É assim também que ela nos ensina a rezar. Não rezamos para afirmar diante de Deus a nossa vontade e os nossos desejos, por mais importantes ou razoáveis que nos pareçam, mas rezamos para levar à presença de Deus nossas necessidades, e deixar que seja ele a decidir o que mais convém.

Terceira recomendação: Como Maria, envolver a todos. O fato de Maria confiar em Deus e de nos confiar inteiramente a Deus, nem por isso descompromete a resolução dos problemas. Maria é presença que envolve outras pessoas: Jesus, os serventes, os comensais, o mestre-sala e, por fim, os discípulos. Maria é figura que agrega e convoca em torno de si. Ela é semente de comunidades, matriz de comunhão. Ela é a mulher de relações abertas e criativas, que não se isola. Está sempre pronta a estabelecer pontes e parcerias. Maria desafia-nos a ser assim na família, na comunidade eclesial, na sociedade civil. Nunca sem os outros. Pessoas criadoras de relações. Envolvidas e envolventes. Esse é o método fundamental para que corra e escorra sobre a mesa da criação e do mundo o bom vinho da fraternidade e da alegria, fruto de uma autêntica cultura de solidariedade.

Quarta recomendação: Fazer tudo o que Jesus vos disser, indicou Maria. Por isso, a oração implica a nossa ação. Isto é: acreditar, agir, empenhar-nos, trabalhar naquilo que Jesus nos indicar. Levar ao mundo a força revolucionária das palavras de Jesus. Fazer cumprir a Palavra de Jesus é o segredo de Maria para a transformação do mundo, para reconquistar, a partir da nossa casa, a alegria do mundo. Seja daquele primeiro amor que uniu os esposos e se estende agora sobre o marido ou a esposa. Seja daquele amor materno e paterno que se debruça sobre o filho que se desviou do bom caminho. Seja daquele amor paciente e prestativo que se inclina sobre o ancião afetado de demência sobre algum familiar doente, sempre com aquele amor que tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Quinta recomendação: Esperar contra toda esperança. Por último, em Caná, Maria não se rende perante a crise, como também não se resignará nem sequer diante do fracasso aparente da cruz. É essa esperança que a mantém de pé, em expectativa, até chegar à hora da cruz, da glória, da plena união entre Deus e a humanidade. Maria, tal como a mulher grávida ou como a mãe de uma criança ao colo, sempre espera até acima do possível e do razoável. Espera contra toda esperança. A esperança é virtude fundamental se quisermos encher de novo as ânforas vazias da nossa vida com o vinho novo do amor e da alegria. Maria encoraja-nos a não desanimar diante da demora da resposta, diante das dificuldades e problemas inevitáveis de todos os dias. Diante dos nossos problemas atuais. Da nação brasileira, que passa por uma crise nunca antes passada, vivida. Por isso, neste mês de maio, em que voltamos mais vezes ao colo da mãe e em que celebramos a Solenidade em honra a Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Padroeira, apraz-me rezar assim por mim, por meus irmãos sacerdotes e diáconos, seminaristas, e interceder por todos vós, irmãos e irmãs. Ó, Nossa Senhora Auxiliadora, Senhora da alegria, mãe que sorri e que chora. Toma-nos em teu colo. Olha que desmaiamos. Toma-nos em teu colo, afaga-nos o rosto e apaga a luz. Somos teus filhos, somos o teu Jesus.

Amém

Bem-vindos!

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