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Homilias

Escrito em 15/02/2018

Homilia da Quarta-feira de Cinzas

Iluminados pelo mistério pascal, queremos proclamar profeticamente o mistério da cruz

Homilia da Quarta-feira de Cinzas

Homilia da Quarta-feira de Cinzas

Dom Washington Cruz
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
Catedral - 14/02/2018

Nesta Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a caminhada espiritual que nos conduzirá à festa anual da Páscoa: os cristãos professam a fé em Jesus Cristo que por nós morreu e ressuscitou. É cheio de simbolismo o rito das cinzas. Já era uma forma de penitência muito usada no Povo da Antiga Aliança. As cinzas que hoje impomos sobre a cabeça, são provenientes dos ramos utilizados no Domingo de Ramos, do ano passado, lembrando a glória de Jesus entrando triunfalmente em Jerusalém.

A Liturgia faz-nos um forte apelo! “Convertei-vos e crede no Evangelho!” ou ainda “lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar”. As cinzas fazem-nos pensar na caducidade da nossa vida terrena. As cinzas fazem-nos pensar que precisamos de nos arrepender dos nossos pecados.

Para este tempo litúrgico, a Igreja indica-nos três gestos tradicionais: a oração, o jejum e a caridade. São os sinais da conversão nos três âmbitos da nossa vida. A oração, momento íntimo de comunhão com Deus, para escutar a sua Palavra e para lhe mostrar a nossa confiança e acolhimento, apesar de vivermos num mundo que ignora a oração e esquece-se de Deus. O jejum, esforço de mortificação pessoal na comida, nas despesas, na exibição de riqueza, nos sentidos e nas paixões. A esmola, sinal da generosidade para com o próximo, especialmente para com os mais necessitados. Mas não podemos esquecer o que diz o evangelho: “Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles”. O que é importante é ter um coração aberto e sincero. É necessário “rasgar os corações e não as vestes” (1ª leitura), reorientar continuamente a nossa vida para Deus, eliminando sempre a tentação do protagonismo.

Todos os anos para a vivência da Quaresma realizamos no Brasil a  Campanha da Fraternidade, que neste ano de 2018, toca de modo corajoso em uma ferida aberta que dói no tecido social.   A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil conclama toda a Igreja e a sociedade, de modo geral, a centrar suas atenções, nesse tempo quaresmal, na questão superação da violência. A Igreja não está alheia aos grandes dramas vividos pelos homens e mulheres de nosso tempo.  A problemática vivida pela nossa população quanto à violência deve receber da Igreja um olhar como o olhar do próprio Deus: O tema é, portanto, Fraternidade e superação da violência, tendo como lema: “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8).

A Igreja tem por missão Evangelizar. E a preocupação com a superação da violência visa assegurar às pessoas uma maior tranquilidade para que o Evangelho seja vivido em uma sociedade na qual a violência seja definitivamente banida do nosso cotidiano.

"É preciso que todos nós, Igreja, comunidades, instituições, governos, olhemos para as atitudes de Jesus que indicam como devemos fazer para que a paz e a justiça aconteçam

Naturalmente todas as Campanhas da Fraternidade tem como objetivo contribuir para que o mundo viva de modo mais pleno e eficaz o supremo mandamento do amor.  Em muitos lugares no mundo já existem experiências exitosas de banimento da violência dentro dos presídios e na vida das comunidades em razão de atitudes concretas que revelam este amor.

É preciso que todos nós, Igreja, comunidades, instituições, governos, olhemos para as atitudes de Jesus que indicam como devemos fazer para que a paz e a justiça aconteçam: é preciso fazer-se criança, tornar-se o menor dentre todos; é preciso não desprezar nenhum dos pequenos, aqui entendidos não apenas como as crianças, mas, também, todos aqueles que necessitam do amparo social; e, por fim, é preciso perdoar sempre. 

Um sistema judicial que alimenta o ódio é totalmente contrário aos desígnios de Deus. É preciso superar um determinado conceito de justiça que afirma que cada um deve pagar por aquilo que fez.

Aqui vem a prática da não-violência, que não é a mesma coisa que omissão, não-ação ou passividade. Significa não comportarmo-nos de modo violento diante de quem promove a violência; significa recusar-se de participar de atos violentos e reunir energias para atividades pacíficas.

O homem foi criado por Deus para construir e viver num mundo onde reina a paz. Cristo é o Príncipe da Paz. Na medida em que as pessoas se convertem para Cristo e passam a viver conforme o Mandamento do amor por Ele deixado como testamento, aí, sim, podemos acreditar que uma paz verdadeira reinará em Goiânia, em Goiás, nas grandes capitais, nas pequenas cidades do Brasil e no mundo inteiro.

Iluminados pelo mistério pascal, queremos proclamar profeticamente o mistério da cruz que nos mostra o sentido mais profundo do amor que não quer nada para si próprio, mas tudo para os outros. Portanto, tanto as pessoas envolvidas em atos violentos, quanto a sociedade de modo geral são conclamados a renunciar a toda prática que atente à vida humana. Todos devem se esforçar por libertarem-se do ciclo iníquo gerador de violência. E a deporem as armas, a deporem os instrumentos de morte, a deporem tudo o que gera sofrimento. Espíritos desarmados, pessoas desarmadas, grupos desarmados serão capazes de iniciarem um belo e profícuo diálogo. Será o começo da realização da civilização do amor. Desta utopia, deste projeto, a Igreja não pode abrir mão, nem deixar de anunciar. Para esta esperança também fomos chamados pelo Senhor, para que testemunhemos no mundo o evangelho da paz.

Felizmente há a Quaresma, que “anuncia e nos torna possível voltarmos ao Senhor, de todo o coração e com a nossa vida” (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2018). É um longo caminho, de regresso ao primeiro amor (cf. Os 2,16; Ap 2,4), uma espécie de namoro intensivo e extensivo, para não deixar esfriar o amor de Deus, “que corre o risco de apagar-se, nos nossos corações” (MQ 2018). Começamos hoje este caminho com a imposição das cinzas, na esperança de reacender em nós a chama viva do amor, que há de brilhar, em todo o seu ardor e esplendor, na luz do círio pascal, aceso no lume novo da noite de Páscoa. E fazemo-lo: “Movidos pelo Amor que Se entrega na Cruz”.

Alegria, irmãos! Pratiquemos jubilosamente os três meios de penitência que o Evangelho ensina!

Resgatemos os nossos pecados com obras de misericórdia!
Rezemos por toda a humanidade!

Perfumemos a vida espiritual com a virtude da não violência!

Resumindo: repartamos com os pobres a nosa renúncia quaresmal e Deus Pai nos recompensará na Ressurreição dos justos!

Bem-vindos!

Bem-vindos!

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