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Homilias

Escrito em 25/03/2018

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor Ano B Catedral

Ao assumirmos, como Jesus, as nossas cruzes, não seremos fracos e sem audácia

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor Ano B Catedral
Fotos: Rudger Remígio

Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
25/03/2018

O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a semana em que o Senhor Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da redenção. Sabemos, pelos Evangelhos, que Jesus Se encaminhara para Jerusalém juntamente com os Doze e que, pouco a pouco, se foi unindo a eles uma multidão cada vez maior de peregrinos. 

O texto que acabamos de ouvir do Evangelho de S. Marcos é a narrativa mais antiga da Paixão e Morte de Jesus. S. Marcos apresenta-nos um Jesus que aceita pacientemente tudo o que Lhe está a acontecer e que, no fim, conclui: “Cumpriram-se assim as Escrituras”. O evangelista acentua, deste modo, que Jesus não se revolta contra os acontecimentos que não pode impedir, e que o Pai não quer operar milagres para Lhe evitar os dramas que se abatem sobre Ele.
Como reparamos na narração, não há ninguém que tome a defesa de Jesus. Ele é abandonado pelos discípulos, é traído pela multidão que prefere Barrabás, zombam dele, é flagelado e humilhado pelos soldados, é insultado pelos que passam e pelos chefes do povo presentes no momento da crucifixão. À sua volta há somente trevas. 
Jesus sente-se completamente só. Apenas algumas mulheres estavam a observar de longe... 

Ainda hoje somos nós que continuamos essa Paixão, carregando os nossos ódios, raivas, mentiras, invejas, fanatismos, intransigências, liberdades mal direcionadas. Tudo isto provoca violência incontrolada e desnecessária. Seguimos a par e passo o Rei manso e obediente que, a nós e por nós, se entrega por amor, absorvendo, absolvendo e dissolvendo o nosso lado sombrio e pecaminoso. 
 
A Paixão continua ainda hoje

Na nossa vida há momentos em que também experimentamos a impotência, o abandono, o fracasso, a mentira, a opressão. Quando nos empenhamos em viver de maneira coerente com aquilo em que cremos, quando queremos construir na comunidade civil ou eclesial uma relação de sinceridade e de concordância com o Evangelho, acabamos muitas vezes por nos encontrar isolados, reprovados por amigos, recusados pela própria família. Nesses momentos podemos ter a tentação de tudo abandonar e pensar que não vale a pena lutar e sofrer tanto. É altura, então, de olharmos para Cristo e procurarmos encontrar resposta para os pequenos ou grandes dramas da nossa vida e de assumirmos as cruzes de cada dia.
 
Ao assumirmos as cruzes de cada dia

Ao assumirmos, como Jesus, as nossas cruzes, não seremos fracos e sem audácia, não nos demitimos, não deixamos de lutar contra o mal, mas devemos procurar a verdade por todos os meios legítimos. O cristão é alguém que, como Jesus, se recusa a utilizar a falsidade usada pelos seus opositores através da difamação, da trapaça ou da violência. Não se amedronta com a derrota, não se preocupa com a vitória dos seus adversários, pois sabe que se trata de sucesso ilusório.

Porém, neste Dia Mundial da Juventude, recordamos os jovens cristãos que se envergonham da sua fé ou renunciam a ela. Que o Túmulo silencioso em que Jesus foi encerrado seja o “deserto”, deles e nosso, para escutarmos mais fortemente a voz de Deus, e um estímulo para removermos todas as pedras que mantêm Cristo ainda trancado dentro do túmulo do nosso coração. Queridos irmãos e irmãs, dois sentimentos nos animem particularmente nestes dias: o louvor, como fizeram aqueles que acolheram Jesus em Jerusalém com o seu “Hosana”; e a gratidão, porque, nesta Semana Santa, o Senhor Jesus renovará o dom maior que se possa imaginar: dar-nos-á a sua vida, o seu corpo e o seu sangue, o seu amor. Mas um dom assim tão grande exige que o retribuamos adequadamente, ou seja, com o dom de nós mesmos, do nosso tempo, da nossa oração, do nosso viver em profunda comunhão de amor com Cristo que sofre, morre e ressuscita por nós. Os antigos Padres da Igreja viram um símbolo de tudo isso num gesto das pessoas que acompanhavam Jesus na sua entrada em Jerusalém: o gesto de estender os mantos diante do Senhor. O que devemos estender diante de Cristo – diziam os Padres - é a nossa vida, ou seja, a nós mesmos, em sinal de gratidão e adoração. Para concluir, escutemos o que diz um desses antigos Padres, Santo André, Bispo de Creta: “Em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de arbustos que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu vigor, prostremo-nos nós mesmos aos pés de Cristo, revestidos da sua graça, ou melhor, revestidos dele mesmo (…); sejamos como mantos estendidos a seus pés (…), para oferecermos ao vencedor da morte não já ramos de palmeira, mas os troféus da sua vitória. Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-lo todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel” (PG 97, 994). 

Rezemos, pois, por nós e por todos eles, para que tenhamos a coragem de ser arautos testemunhas de Cristo Redentor, em todas as circunstâncias da nossa vida.

Amém!

Bem-vindos!

Bem-vindos!

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