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Escrito em 08/10/2018

Marrocos: livres para deixar o islã

A nova posição do Marrocos evidencia a particularidade de um país que tem feito do pluralismo religioso sua bandeira

Pedro Miskalo

Pedro Miskalo

Revista Mundo e Missão

No Marrocos, não há mais condenação à morte por apostasia (renúncia de uma religião), mas liberdade para quem quer deixar o islã e abraçar outra fé. A posição histórica foi assumida pela representação religiosa máxima do Marrocos, o Conselho Superior dos Ulemás (CSU), que abre caminho a uma reforma, sem sombras ou ambiguidades.
É regra em vigor em todos os países muçulmanos que o apóstata deve ser condenado à morte. O CSU marroquino rejeita a aplicação da lei islâmica (fatwa) anterior, de acordo com a qual os marroquinos culpados de apostasia teriam um único destino: a morte.
 
A nova posição do Marrocos evidencia a particularidade de um país que tem feito do pluralismo religioso sua bandeira, defendendo a própria posição e visão de um Islã moderado. O CSU, de fato, procura traçar uma linha clara sobre esse incômodo tema islâmico, pois, no país, muitas pessoas passam do sunismo ao xantoísmo, ou ao cristianismo, e até mesmo ao ateísmo.
 
O Alcorão não fala diretamente de pena de morte em caso de apostasia, mas, referindo-se a quem renega o Islã, fala de castigo – como em outras religiões – após a morte. Entretanto, na Arábia Saudita, o país líder do Islã mais obscuro, certas interpretações da Suna vêm pela mão de um carrasco.
 
O nó, de fato, está contido em um famoso hadith, que sentencia: “Quem muda de religião há de ser morto”. Os Ulemás do Marrocos argumentam: “Em tempos de guerras de religião, os apóstatas tornavam-se inimigos da Umma (a comunidade islâmica), pois poderiam revelar segredos aos adversários. Portanto, deveriam morrer”. Como o Marrocos já não está mais em guerra, a fatwa do passado não faz sentido. A mudança de postura representa, portanto, um passo fundamental numa interpretação do Alcorão que permita resgatar o conteúdo religioso, distinguindo-o das contaminações históricas. Se o Islã ortodoxo, em todo o mundo, procedesse na interpretação dessa nova linha, seriam dados passos à frente, dos quais muitos muçulmanos tem necessidade urgente.

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