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Homilias

Escrito em 16/06/2017

Solenidade de Corpus Christi

Festa do Corpo e Sangue de Cristo reuniu cerca de 10 mil fiéis na Praça Cívica

Solenidade de Corpus Christi
Foto: Rudger Remígio


(Dt 8,2-3.14-16/1Cor 10,16-17/Jo 6,51-58)

Prezados irmãos Dom Levi e Dom Moacir,
Prezados vigários episcopais
Queridos padres e diáconos,
Membros da Vida Consagrada,
Seminaristas.
 
Excelentíssimas autoridades civis e militares. Queridas irmãs e irmãos, lideranças pastorais e integrantes dos movimentos eclesiais, Ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e todos os que estão investidos dos demais ministérios e serviços da Igreja.

Representações dos vicariatos, das paróquias e das comunidades,

Irmãos de Goiânia e irmãos dos demais municípios que integram a nossa Arquidiocese,
visitantes provenientes de outras cidades de Goiás e de outros estados do Brasil, que hoje celebram conosco.
 
Irmão e irmã, que nos acompanham pela PUC TV (que por sinal neste mês completa 10 anos que foi ao ar) e pelas rádios Difusora, Vox Patris e Luz da Vida.
 
Hoje é um dia de louvor público ao Corpus Christi, a festa do Corpo de Deus. É a festa do mistério do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. Com esta solenidade, em unidade com toda a Igreja, inundados pela alegria pascal e cheios do Espírito Santo, celebramos o Mistério da presença de Jesus eucarístico no meio de nós.
 
Nesse dia recordamos a primeira Eucaristia em que Jesus, na Quinta-feira Santa, instituiu a nova aliança entre Deus e os homens. 
 
Na primeira leitura, tirada do Livro do Deuteronômio, ouvimos que:
Moisés falou ao povo, dizendo: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu!”. “Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair da terra do Egito”.

Nesta era pós-moderna, somos seduzidos pelas constantes novidades e pela saturação do presente. Por isso, a recomendação bíblica para sermos fiéis às nossas raízes, pode nos soar como um passado que já passou e que não tem mais nada a dizer. Sobre o passado, corremos o risco de reconhecê-lo apenas como uma moda “antiquada”, para conforto dos saudosistas.
 
“Lembra-te”! “Lembrar”, “recordar”, talvez, sejam os verbos mais esquecidos num tempo sem memória, que já não lembra nem daquilo que aconteceu ontem.
 
Jesus na Eucaristia nos convida a recordar o passado. E isto não para querer repetir o passado, mas para despertar a gratidão no presente e para fundamentar a esperança no futuro. A Eucaristia é para recordar, isto é, para fazer “passar pelo coração” a experiência da graça e do amor, revelados em Cristo Jesus.
 
Mas não poderíamos chegar aqui, estar aqui e partir daqui, sem a memória do gesto simples e livre de nosso caminhar: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu”.

Caminhar para o Senhor, caminhar com o Senhor, como quem reza e celebra, não só com as mãos, mas também com os pés! Sair de nossas casas, para vir à comunidade e celebrar a Sagrada Eucaristia, sair de nós próprios, do nosso mundo, dos nossos interesses pessoais, das ocupações e preocupações é, em si mesmo, um gesto libertador.
 
Só podemos caminhar com o Senhor e para o Senhor na medida em que nos dispusermos a sair para o encontro dos outros. Como Igreja, somos chamados à cultura do encontro, à pastoral do encontro. Entretanto, estejamos atentos à advertência do papa Francisco: “Podemos caminhar quanto quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor”. (Homilia aos Cardeais, 14/03/20013).
 
Com a Procissão do Corpo de Deus, que realizaremos no final desta celebração, a Igreja, de algum modo, reinterpreta a caminhada de Israel pelo deserto.
 
Nas andanças pelo deserto, o Povo de Deus pôde encontrar o caminho, justamente porque o Senhor ia à sua frente, como nuvem e coluna de fogo. Este povo pôde viver na aridez das dunas sem vida, porque não vivia só de pão, mas de toda a Palavra que brotava da boca de Deus. Israel encontrou uma terra, e depois de perdê-la, continuou a subsistir, exatamente porque não se alimentava só de pão, mas encontrou na Palavra a força da vida que o conduziu, durante séculos, por todos os becos sem saída e por todos os desterros.
 
“Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”.
 
O verdadeiro Pão que sai do amor de Deus, e que alimentava Israel, e hoje alimenta a Igreja, é precisamente a Eucaristia!

Caminhando com este corpo eucarístico, em procissão, pelas ruas de Goiânia, dizemos ao mundo: “fora de Deus, não há Caminho”! “Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida! Jesus é a Palavra de Deus feita carne”. O critério fundamental está lançado: Deus em primeiro lugar, a sua Palavra é o verdadeiro Pão!

Onde Deus e a sua Palavra não são escolhidos como “a melhor parte” ou “o único necessário”, depressa vem a nos faltar as energias e a vontade, para o cultivo e para a partilha do pão de cada dia!

A história dos regimes políticos do século XX mostra-nos que, lá aonde apenas se quis dar pão à multidão, tendo como moeda de troca a negação e o esquecimento de Deus, depressa tal pão se transformou em “pedra” de ruína e destruição.
 
Por outro lado, lá aonde sobrou o pão na mesa de alguns, porque faltou pão na mesa de muitos, com certeza é porque negou-se a presença de Deus e a sua justiça. Porque quando Deus é a referência, quando lhe é dada a precedência e a prioridade que Ele merece, quando Deus se torna o alimento e o sustento da vida, então também a orientação da vida se torna mais justa, mais honesta, mais solidária e mais fraterna. Caminhar com o Senhor, que se fez Pão da Vida, torna-se, para todos, o sinal eficaz do compromisso com a justiça, com a verdade e com a paz.
 
Hoje, a celebração de Corpus Christi “nos dá uma ideia de como era a celebração da Eucaristia nas origens do cristianismo: em cada Igreja particular havia um só bispo e ao redor dele, ao redor da Eucaristia por ele celebrada, se constituía a Comunidade, única, porque único era o Cálice abençoado e único o pão partido [cf 1 Cor 10,16-17]”.  (Corpus Christi Bento XVI, 2008).

 

"O Senhor nos convida a todos, como Igreja arquidiocesana, a renovar nossa pastoral das vocações de especial consagração, em todas as paróquias e comunidades
 

Neste ano em que celebramos os 300 anos do achado da pequenina imagem de Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil, estamos realizando o Ano Vocacional Mariano. O Senhor nos convida a todos, como Igreja arquidiocesana, a renovar nossa pastoral das vocações de especial consagração, em todas as paróquias e comunidades, começando pela oração: “Pedi ao Senhor da Messe que mande operários para a sua vinha”. Mas é preciso cuidar também das demais vocações, de modo especial, a vocação ao matrimônio.

Peço aos sacerdotes, diáconos e demais responsáveis de comunidades para que vivamos na unidade, porque único é o corpo de Cristo: “Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão”.

Celebramos um sínodo que produziu três belos documentos para nortear nossa pastoral, conforme os três eixos da ação evangelizadora da ação pastoral da Igreja no Brasil: “Palavra, Liturgia e Caridade”.

“Muitos membros, um só corpo. Muitos dons, um só espirito”. Sem uma pastoral de conjunto não apenas não conseguiremos realizar nossa missão pastoral, mas até podemos impedir que os planos de Deus se cumpram sobre nós e nossas comunidades.
 
Na Eucaristia, a Igreja abençoa e é abençoada. A Igreja abençoa porque revive a atitude de benção do próprio Jesus, pela sua palavra e pelo seu gesto; e a Igreja é abençoada porque ao receber o Corpo do Senhor, se sente amada por Deus, tal como se sentiu na feliz noite da páscoa.
 
Ao celebrar a Eucaristia, a Igreja adentra na memória do coração de Jesus: “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha” (1 Cor 11,26).

Quem se alimenta do pão eucarístico também deve ser um testemunho vivo de partilha. Há muito pão, terra, bens e riqueza acumulados nas mãos de poucos. E há milhões sem o “pão nosso” de cada dia, para si e para os seus filhos. Quando tiramos o pão da boca dos pobres, profanamos e desprezamos o próprio corpo do Senhor.
 
Neste dia de solene adoração ao Corpo de Cristo, não podemos nos esquecer dos 14 milhões de brasileiros desempregados, da corrupção que dilacera a nação e tira a esperança do povo, da ganância que destrói o nosso cerrado e que seca o berço das águas, da violência que mata e que nos tira a segurança e a paz. Que o Corpo de Cristo, como Viático, nos conduza na viagem para a eternidade. Que o Corpo de Cristo, na fração do pão, nos conduza para a justiça e para a partilha.
 
No dia de hoje, junto ao Corpo de Cristo, agradecemos a Deus pelos 60 anos da Arquidiocese. Quando esta cidade de Goiânia, construída no meio do cerrado, ainda estava erguendo suas primeiras casas, abrindo suas estradas, acolhendo as famílias que para cá acorriam em busca de trabalho... quando por aqui tudo estava começando, foi erigida, pelo papa Pio XII, a Arquidiocese de Goiânia, abrangendo atualmente a capital e mais 26 municípios. Há seis décadas, ininterruptamente, nossa Arquidiocese celebra a Eucaristia todos os dias, seguindo a ordem de Jesus: - “Fazei isto em memória de mim”.
 
Lembramos, com reverente homenagem, a vigorosa presença de Dom Emmanuel e das congregações religiosas dedicadas à educação, que criaram as escolas católicas e colaboraram na formação das várias gerações goianas.
 
Lembramos Dom Fernando Gomes dos Santos e de todos os que com ele deram corajosamente suas vidas para a missão evangelizadora da Igreja.

Foram eles que deram os primeiros e decisivos passos para a organização da Arquidiocese: criaram aquela que hoje é a Pontifícia Universidade Católica de Goiás, a Rádio Difusora, a Revista da Arquidiocese, o Centro de Pastoral, e fundaram novas comunidades, novas paróquias e até formularam os estudos para a criação de novas dioceses, que antes integravam o território de nossa arquidiocese.  

Organizaram também vários dos serviços pastorais arquidiocesanos, ainda hoje existentes.
 
Lembramos Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, recentemente falecido, e de todos os demais irmãos e irmãs que com ele organizaram e participaram das assembleias arquidiocesanas, das reuniões e do planejamento pastoral, da ação evangelizadora da Igreja.

Lembramos de todos os cristãos leigos, das lideranças comunitárias, dos agentes de pastoral que se dedicaram à catequese, às pastorais sociais, aos serviços e ministérios eclesiais, à defesa dos Direitos Humanos.

 

"O modo mais eficaz de homenagear a Arquidiocese é continuar anunciando e testemunhando Jesus Cristo, assim como fizeram aqueles que vieram antes de nós
 

Lembramos todos os nomes daqueles e daquelas que, vivos ou falecidos, fazem parte dos 60 anos da Arquidiocese de Goiânia. Colocamo-nos, também nós, diante de Jesus Eucarístico, cheios de gratidão por tantas graças e bênçãos concedidas a esta Igreja particular; e também por Jesus tê-la sustentado na perseverança da fé e na fidelidade à missão.
 
No próximo dia 23 de junho, monsenhor João Daiber celebra 50 anos de sacerdócio. A ele e a todos os padres, na Arquidiocese, que celebram neste ano algum jubileu, nossa gratidão, e louvor a Jesus eucarístico.
 
O modo mais eficaz de homenagear a Arquidiocese é continuar anunciando e testemunhando Jesus Cristo, assim como fizeram aqueles que vieram antes de nós.  O modo mais profundo de evocar o jubileu de diamante da nossa Arquidiocese é celebrando a Eucaristia, porque nela mergulhamos no mistério do Senhor e participamos de sua missão realizada na história. A Eucaristia é, para a Igreja que está em Goiânia, o caminho para a missão.

Fazer memória de Jesus, na Eucaristia, é redescobrir a permanente presença de Cristo na Sua Igreja.  Ao adorar a Eucaristia, a Igreja glorifica o Senhor e encontra a fonte de sua confiança e de sua esperança. Na Eucaristia somos enviados para a missão, com força dinamizadora e criativa. O Senhor nos envia com a mesma urgência com que o faz há 60 anos, na Arquidiocese de Goiânia.
 
Sabendo que somente pela Eucaristia uma Igreja é viva e missionária, anseio pelo dia em que poderemos ter, em alguma igreja da cidade, a adoração contínua e ininterrupta a Jesus eucarístico.
 
Com essa densidade de amor e de louvor sairemos, daqui a pouco, em procissão, seguindo o Senhor, como discípulos e missionários de Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”.

Senhor Jesus, fazei que a Vossa Igreja arquidiocesana e que cada um de nós confie plenamente na vossa palavra, permaneça fiel no vosso amor, cultive a intimidade convosco na oração, responda com prontidão ao vosso apelo para a santidade e para a comunhão fraterna.
 
Senhor Jesus, fazei-nos a Vossa Igreja que anuncia a cada dia a jubilosa notícia do amor misericordioso do Pai. Igreja que não teme derramar o sangue para dar testemunho da justiça, da verdade e do amor.

Praça Cívica, 15/06/2017

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