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Escrito em 24/12/2019 por Dom Washington Cruz - Arcebispo Metropolitano de Goiânia

Missas de Natal na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora - Catedral Metropolitana de Goiânia

É Natal outra vez

Imagem Homilias

Aí está o Natal, com a força da tradição. Vem como que “embrulhado” com as luzes e as cores do comércio. Mas não deixa de marca as nossas vidas. “Porque a graça de Deus, fonte de salvação, manifestou-se a todos os homens” (Tito 2,11). Glória a Deus e paz na terra! O Natal não é simplesmente celebração do aniversário natalício de Jesus. É “comemoração” e, portanto, “memória” da presença misteriosa de Deus, no “hoje” da nossa vida.

O Mistério da Encarnação de Deus, que celebramos no Natal, mais do que simples e rápida “visita”, é entrada definitiva e permanente do Filho de Deus feito Homem, na realidade da vida humana, na minha vida, tal como ela é, também na sua fragilidade. “E o Verbo fez-Se homem e veio habitar conosco” (Jo 1,14), assumindo completamente a condição humana: em tudo igual a nós, exceto no pecado. É esta a Boa Notícia, que nos traz o Natal de Jesus. Nascendo na nossa carne, Ele acompanha-no na luta da vida, com as suas luzes e sombras, sucessos e fracassos, alegrias e tribulações.

São também para nós, hoje, as palavras de São Pedro: o Senhor não tardará em cumprir a Sua Promessa, de acordo com a qual “esperamos novos céus e uma nova terra, onde habita a justiça” (2Pd 3, 13). Celebrar o Natal é, pois, dar corpo a esta esperança do “já” e “ainda não” do Reino de Deus, inaugurado com o Natal de Jesus. A demora do “ainda não” da Promessa não pode ofuscar a certeza do “já” do Reino em marcha no mundo, apesar de todas as contradições e contrariedades da história.

Por isso, fazemos festa nesta época natalina. E ainda bem que podemos fazê-la. O que importa é dar sentido e medida à festa, fazê-la chegar a todos, levar o seu espírito
para a vida. Não se pode construir o Reino de Deus fugindo do mundo, mas inserindo-se nas lutas da vida em sociedade, como fermento que leveda a massa. É o que se espera dos cristãos, nesta situação difícil, que atravessa o país. Faço um forte apelo a todos os católicos para que sejam parte ativa na solução da “crise” por que estamos passando.

Estamos num momento, em que é preciso realçar as exigências do bem comum, isto é, a prevalência do bem de toda a coletividade sobre interesses pessoais e  corporativos. A contribuição de todos para o desenvolvimento coletivo, faz de cada cidadão protagonista das soluções. Apesar das difi culdades conhecidas e previstas, quero dar neste Natal uma palavra de confi ança. Análises catastrófi cas sobre o país em nada ajudam a serenidade e a generosidade, essenciais para construir o futuro. Não tenhamos medo dos momentos difíceis, pois eles constituem, tantas vezes, alicerce de um futuro melhor. Mas não basta vencer o medo. É preciso ter a coragem da esperança, que nos compromete num caminho de exigência e de austeridade. Bem na linha da história nova e diferente, que nasce em Belém. Essa história ainda se está fazendo. Como que vivemos as dores de um parto, que anuncia o nascimento de uma nova humanidade.

Entre o “já” e o “ainda não” da sua plena realização, os cristãos teimam em esperar, sentindo a obrigação de apressar os “novos céus” e a “nova terra”, colaborando ativamente para construir uma sociedade conforme o desígnio de Deus e à medida do homem.

Ele está no meio de nós

Com o profeta, atrevo-me a dizer aos corações atribulados: “Tende coragem. Não temais. Aí está o vosso Deus…, vem em pessoa salvarnos” (Is 35,4). Razão mais do que sufi ciente, para desejar a todos Boas Festas de Natal, com a certeza do “hoje” da salvação de Deus, na história conturbada do nosso tempo. O Natal traz um apelo à coragem da esperança, para renascer e recomeçar, comprometer-se na vida e pela vida. Efetivamente, o Mistério da Encarnação de Deus, que celebramos no Natal, faz-nos acreditar na vida, dá sentido à vida, garante o triunfo final da vida.

Há ou não razões para celebrar?

Num mundo, onde em cada minuto tantos seres humanos morrem de fome; num mundo, onde tantos seres humanos sofrem cruelmente os horrores de guerras desumanas e sem sentido; num mundo, onde seres humanos são torturados e mortos por causa das suas convicções; num mundo, onde, apesar de todo o progresso, há mais vítimas de injustiça e da miséria do que em qualquer outra época. Num mundo assim, parece escandaloso que alguns se alienem, numa alegre ignorância, com festividades e gastos suntuosos. Na verdade, se festejar não for mais do que um saborear autocomplacente a prosperidade e a segurança conquistadas, este não é, na verdade, o tempo
adequado para festejar.

Mas será este o sentido da festa? O sentido genuinamente cristão não é este. A festa cristã, que celebra o nascimento do Senhor, tem outro sentido: é um convite ao homem, para que ultrapasse o mundo do calculismo e do utilitarismo que o constrange diariamente e se concentre no fundamental; que, por alguns instantes, se liberte da lógica dura e crua da luta pela vida, ultrapasse as fronteiras do seu mundo mesquinho e dirija o seu olhar para a totalidade; que tome consciência e se deixe encantar
pelo amor, que se revela em Deus feito menino. Festejar assim torna-o mais rico e mais puro. Tentar dar este sentido às nossas celebrações é inundar a terra duma brisa suave, que leva a esperança aos oprimidos e desperta aqueles que, ignorados, se fecham em si mesmos.

A solidariedade do Natal

É no mistério do Verbo encarnado que tem origem toda a verdadeira solidariedade humana. O Verbo de Deus assumiu um corpo, solidarizou-se com a humanidade,  sujeitou-se aos condicionamentos da nossa natureza, entrou no nosso mundo para nos mostrar o que signifi ca ser solidário e assim cumprir a vontade do Pai, como nos ensina a Sagrada Escritura, que põe na boca de Jesus estas palavras: “não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,7). A vontade de Deus é a salvação da humanidade. E não foi alcançada à custa de uma oferta qualquer. Mas pela entrega da própria vida nas mãos do Pai. Jesus pensou, trabalhou, ensinou, viveu e deu a vida para desencadear na humanidade novos mecanismos solidários, capazes de destruir as barreiras e romper as fronteiras que impedem os humanos de serem solidários uns com os outros.

A verdadeira solidariedade consiste em deixar que os outros entrem no nosso recinto pessoal, acolhendo-os com simpatia e partilhando com eles o que temos e o que somos. Mais do que dar algo, a verdadeira solidariedade consiste em dar-se a si próprio, como fez Jesus, para que os outros consigam a libertação.

Quem é solidário não diz apenas que será de mim É também capaz de dizer o que será do outro. Com os olhos postos no presépio, alarguemos os horizontes dos nossos presentes de Natal e solidarizemo-nos com aqueles que mais precisam, os injustiçados e os necessitados, os injustiçados e os necessitados, a exemplo de Jesus, que veio
dar a vida por todos. Nestas festas natalinas, quero saudar todos os goianienses e goianos, fazendo minhas as palavras do Anjo aos pastores, na noite de Natal: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria: hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor” (Lc 2, 10). E nós, que acreditamos, vamos recebê-lo e permanecer com Ele, ainda mais e de modo mais comprometido, para Lhe pedir que seja para todos Salvador e Messias, Jesus Cristo, e que nasça também para aqueles que o ignoram, o desprezam e buscam sem Ele e contra Ele, outros salvadores, outros messias, outra salvação. Que o Menino Deus, seja vida e luz,  esperança e Salvação para todos nós e nossas famílias, para a nossa sociedade, para o nosso país.

Jesus Cristo, o Verbo Encarnado no seio de Maria, nasceu pobre em Belém e entregou voluntariamente a sua vida pela redenção da humanidade, para que todos pudessem compreender o valor sagrado da vida. Ele próprio o afi rmou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Por isso, a melhor forma de celebrar o Natal é, antes de mais acolher nos nossos corações o Autor da Vida e agradecer o dom da própria vida. Em seguida, cabe-nos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que todas as vidas humanas sejam acolhidas, respeitadas, amadas e promovidas. Só assim ajudaremos, verdadeiramente, a construir a paz e a implantar a cultura da vida.

Não adianta muito queixar-se de como o Natal é celebrado hoje. Nós é que fazemos o Natal, com o nosso testemunho e empenho, qual fermento que leveda a massa, luz que ilumina, fogo que aquece, sal que preserva da corrupção e dá sabor à vida. Celebrar o Natal de Jesus é abraçar a vida humana e a própria humanidade, como Ele, com
paixão e até à Paixão, que é a forma mais radical do amor.

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