Sínodo Pan-Amazônico: a feliz coincidência
Outubro de 2019, mês escolhido pelo Papa Francisco para celebrar o Mês Missionário Extraordinário e realizar o Sínodo Especial para a Amazônia
Terra de Missão e de pessoas comprometidas com o Reino de Deus e o bem-viver, a Amazônia tem sido, para nós, solo fecundo e de experiências ricas para a missionariedade.
Esses dois momentos eclesiais tornam possível, em outubro deste ano, uma feliz coincidência na perspectiva de encontrar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral” por meio da ação missionária dos discípulos de Jesus, “Batizados e Enviados”. O Sínodo e o Mês Missionário Extraordinário conectam-se e relacionam-se, principalmente à medida em que são pensados o fortalecimento e as novas forma da presença da Igreja na região amazônica; ao passo que se objetiva retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral em toda a Igreja.
Tem sido possível vivenciarmos, desde a convocação para o Sínodo, o movimento de escuta e de mobilização junto às bases, e isso já nos trouxe centelhas de uma nova Igreja para a realidade amazônica. Uma Igreja com rosto amazônico e indígena, que recebe o apoio dos missionários que chegam para anunciar a mensagem do Evangelho, mas que, fortalecida pelo Espírito Santo, assume o mandato de uma Igreja em saída, que encontra, em suas próprias periferias, lugares privilegiados de experiência evangelizadora. Ali estão os marginalizados, os fugitivos, os refugiados, os desesperados, os excluídos. Portanto, com Jesus Cristo crucificado e exaltado, que “quis identificar-se num gesto de ternura particular com os mais fracos e os mais pobres”. (DP 196)
(Documento Preparatório, 68)
Celebrar a feliz coincidência desses grandes momentos da Igreja e do pontificado do Papa Francisco é assumir o compromisso de enfrentar os desafios das grandes distâncias, da diversidade de povos e realidades, da floresta e das cidades, dos grandes interesses nacionais e internacionais nos recursos ali dispostos.
Outubro é tempo de reflexão: “A missão encarnada exige repensar a presença escassa da Igreja em relação à imensidão do território e de sua diversidade cultural” (Documento Preparatório 77). São os novos caminhos para a pastoral da Amazônia que nos pedem “relançar com fidelidade e audácia” a missão da Igreja (DAp 11) no território e “aprofundar o processo de enculturação” (EG 126). Como o Papa tem nos cobrado, é preciso ousadia e foco para propor novos caminhos.
Importante considerar a sinalização do Papa Francisco na carta ao Cardeal Filoni, na qual convoca o Mês Missionário Extraordinário. Recordando a Carta Apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV, de 1919, o Santo Padre ressalta que há 100 anos foi apontada a necessidade de requalificar, evangelicamente, a missão no mundo, “purificando-a de qualquer incrustação colonial e preservando-a daquelas ambições nacionalistas e expansionistas que causaram tantos reveses”. Também na Amazônia, onde o colonialismo gerou tantas feridas sentidas até hoje, numa história de perdas e danos, é preciso estar atentos para gerarmos uma presença da Igreja que promova mais e imponha menos.
Todos somos chamados a entrar com o coração aberto nesse novo caminho eclesial, a conviver com as comunidades e a comprometer-se com a defesa de suas vidas, a amá-los e amar as suas culturas. Aos missionários – autóctones e os que vieram de fora – o pedido é para “cultivar a espiritualidade de contemplação e de gratuidade, sentir com o coração e ver com os olhos de Deus os povos amazônicos e indígenas” (Cf. Documento Preparatório, 84)